RIMAS-RITOS-RUMOS
Pois
não é que, (?) o delírio encantando os lábios e acalantando as sandices, carinhoso
ao se debulhar infinito, nem se fez de rogado para apaziguar meus sonhos e
sequer lampejou ao serrar meus olhos. A tarde aninhou cirandas e volteios ao
saber ilusões, mas se pôs a despetalar desejos como os deuses gostariam de afinar
seus prazeres e cítaras. Permitiam-se nos entremeios, as divindades, disfarçar suas
lamúrias, embriagados em néctares e saboreando ambrosias colhidas por ninfas. Fiz
intento de não despertar, deixando estas ilusões bailarem, na falta de mais não
ser, por ventura ou por vir (Porventura ou Porvir?) na espera de colher ansiedade
mesmo antes de maturarem. Descobri que endoidecer, ao cair da tarde, inebria e
apraz. É quando a alma, extenuada, volta à carne depois de viajar delírios nas
imensidões azuis. Os anciões, ao se fazerem meditativos, no recolher das
noites, no calor das fogueiras, pariam lendas e mitos, nos tempos das epopeias
e dos heróis, deixando os potros e os centauros dispararem pelos infinitos borrifando
fantasias e fantasmas. Mas como as lendas e sonhos findavam, os loucos como eu inventavam
tramas para devorarem melancolias e embalarem anseios.
Por
carinho e apego aos devaneios, ao contrario das fugidias incertezas no tempo, o
poeta voltou a brincar de rumos e solidão, antes de ensinar o sol o retiro das
trevas. Não me permiti ser visto, observando-o, como se exige para espionar os menestréis
poetas, vendo seus passos fincarem marcas sobre as areias claras para cadenciarem
as métricas e as inspirações. As insânias poderiam ser rastreadas nas rimas do
poeta espargidas pelas areias, não fossem a crueldade das ondas apagando seus traços.
Sem insânias os sonhos morreriam; sem o poeta os delírios não seriam gratas
insânias. O poente pediu segredo para repor, na quietude, os pensamentos que
desejavam fugir. Assim o céu, entre os perdidos por onde tresloucava, preferiu debruçar
sobre o infinito e fazer-se em rimas deixando a maré retrucar com ondas
salpicadas de desejos e brancura. Eram as lágrimas dos Orixás abençoando os puros,
que revoltavam as espumas brancas dos desejos, caminhando eles, Orixás descalços
e desolados, sobre os indefinidos. Pedi a realidade idiota para não me despertar.
Não
fosse o esmorecendo das ilusões, desaprendido no sopé da infância, estenderia as
malhas da rede de pescar fantasias e desbarataria nostalgias. Assuntei de longe
o bardo esquecer sua vista cansada e displicente sobre o mar triste, pedindo
aos pescadores que despregassem as velas, assim amaciando os ventos, por onde
as gaivotas volteariam suas rimas. Lembrei-me das vidas e idas, quando joguei
aos costados a mochila rota e desbotada, enfiadas nela minhas angústias mais
carcomidas e apegadas. No ensejo de fugir de mim, acomodei, na mochila, mesma,
livro lido para apaziguar a preguiça, sem levantar discórdia e angústia.
No
tropeço das estradas, a tarde guardou o sol, eu me des-perdi do poeta, o poeta des-carreou
das marés.
Ceflorence 20/09/16 email cflorence.amabrasil@uol.combr